SAMPA... Dois Anos de um Carioca na Terra da Garoa
Lembro de quando, no período da forte onda neoliberal, muito se falava em
globalização. E dentre as coisas mais temidas na globalização, estava a fusão
entre empresas e, consequentemente, a incorporação de um determinada área por
outra e o aproveitamento ou não de muitos de seus funcionários com atividades
similares.
Quando se tinha sorte, o funcionário “ganhava” o direito de
permanecer na empresa. Mas, muitas vezes, não na mesma cidade. E lá no meu Rio
de Janeiro, ouvi (e talvez tenha dito também)... “Cara, só não me peçam pra
morar em São Paulo!”.
Pois é. Há dois anos aceitei o desafio de morar lá, mesmo
que sem fusão. E nessa con-fusão, sou grato pelos dois anos vividos na terra da
garoa e que passaram... bem, passaram devagar, com toda a certeza! E aqui,
deixo uma breve homenagem a esta mega-hiper-ultra-cidade (com todos os hífens
que tenho ou não tenho direito). São Paulo, Sampa, a “cidade sangue quente” –
bem poderia dizer a carioquíssima Fernanda Abreu. A cidade do corre-corre. Dos
engarrafamentos. Do frio no inverno, mas das noites agradáveis, mesmo em boa
parte do verão.
Sampa dos bares, esquinas, botecos. Das comidas
inesquecíveis, das pizzas inacreditáveis em disputar o primeiro lugar no
paladar de cada um. Dos restaurantes e baladas sem fim. Do happy hour nosso de
quase todo dia. A cidade que não para. Como bem diz o programa de rádio que
aprendi logo no início... “vam.. bóra, vam... bóra... vam... bóra... tá na
hora, vam bóra...” e o locutor, afirmando ser “seis e vinte”... e o outro “repita”...
“seis e vinte”. Cidade que odeia atraso e perda de hora. Tive que aprender...
logo eu!
Do cachorro quente (aqui não é chamado de podrão, mas dogão).
Prensado na chapa, com purê de batata e duas salsichas. Diliça! Do pastel sem
igual, nas inúmeras feiras livres, com caldo de cana (com limão ou abacaxi).
Dos bons amigos (poucos, é verdade), que fiz. Mas gente do bem, que entendeu e
brincou com meus chiados e puxadas de erre. Além, da malemolência da fala
carioca. Gente trabalhadora. Gente de longas travessias pelas marginais e
grandes, enormes vias que me assustavam muito antes de eu pensar em aqui
residir.
Obrigado, São Paulo. Pelo carinho, pelas oportunidades. Por
receber todo mundo que quer se aventurar a ganhar a vida. E que faz da cidade
uma “salada de gente” de todos os cantos do Brasil. Ops, desculpe, de todos os
cantos do mundo. Cidade da diversidade de línguas, sotaques, preferências
sexuais, jeitos de se vestir. São Paulo é fera, mano.
E o Carioca aqui, sem perder jamais suas raízes, faz
reverência à "deselegância discreta de suas meninas", pra dizer que há menina
muito bonita pelas bandas de cá. E pra dizer que desde esses dois anos... “alguma
coisa acontece no meu coração”, e não apenas quando cruzo a Ipiranga e a
Avenida São João, no indefectível e delicioso Bar Brahma. Mas também por causa
daquela inesquecível esquina. Inesquecível. :’)
(*) Foto no Parque Trianon - Av. Paulista
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