Saudade de você, minha véia...
Quantas horas sem dormir por conta de minhas enfermidades... e quando precisei acordar muito cedo para estudar, era meu despertador acompanhado de leite com açúcar queimado. Com paciência me ensinou coisas difíceis para mim. Com rabugice típica das mães me cobrou notas no boletim e que eu não ingerisse álcool. Memórias duras ela tinha com álcool... e eu tive que seguir à risca.
Por conta de tratamento com médico homeopata me cortou o chocolate, o café e a coca-cola. Cortar a coca, minha avó, ainda não consegui. ;) Mas com sorriso maroto a senhora fingiria não ver...
Jogava bola comigo... e eu jogava bola dentro de casa. Sim, quebrando vidraças e outras coisinhas... mas o seu amor não ligava para isso.
Com amor imenso me criou, educou, alimetou, vestiu (sim, o Dockside Samello e as roupas da Pier era ela quem me presenteava). Como esquecer de tudo isso, minha véia?! E como homenageá-la por tanto amor e carinho a mim entregue? Resolvi escrever hoje. No dia em que a senhora faria 91 anos. Véspera de Natal. Onde o presenteado era sempre eu e o meu pai. Aquele a quem a senhora muito amou também... amou demais e ele hoje reconhece. E sei que vai chorar como eu estou chorando quando ler essas bobagens aqui, veinha.
Aquele queijo Palmira, vovó... todo ano no Natal. Hummmmm. Esse ano eu o encontrei e comprei. Aliás, o Natal nem chegou e metade dele já se foi... também agora eu tenho meu filhote que gosta muito também dessa tradição de família!
Me senti e sinto ainda desprotegido. Olhar várias vezes para os lados para atravessar as ruas era sua exigência. Sempre! Procuro fazer isso ainda. Mas sei que se tiver maiores apertos, não poderei ligar para a senhora e dizer... "vovó... veja bem..."
E como eu lhe perturbava na hora de suas novelas! E como o meninão aqui gostava, vovó... gaiato eu sempre fui muito. E bagunceiro... e era a senhora quem assinava todas as advertências e suspensões que levei... e não foram poucas (e que meu filho não leia isso! rsrsrsrs).
Tolerância, amor, medida de disciplina e abraços. Comidinha à gosto. Oração na hora de dormir. "Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a Graça de Deus e do Divino Espírito Santo".
A sua fé sempre existiu e nunca vi pessoa tão guerreira, tão disposta, tão incansável em busca do sim, quando tudo indicava o não. Idas e voltas à Araruama. Várias vezes. Deixando herança para os filhos de maneira que pudessem ter alguma tranquilidade e não passassem as privações que a senhora teve, morando em "casa de cômodo", vindo do interior do Espírito Santo.
A simplicidade de quem foi tão linda... Miss Quinta da Boa Vista... era bonita mesmo. E se casou com meu amado avó. Aquele bonitão com um charme e olhos azuis que só podia lhe dar muito trabalho... e deu mesmo! Mas ela superou e, apesar de tudo, foi ela quem dele cuidou no final da vida. Estavam separados há quase 50 anos... mas a sua generosidade não o deixaria sozinho.
Muitos nunca entenderam sua generosidade. Aliás, por vezes e pelos filhos a senhora exagerou. Mas são as contra-indicações de quem amou demais. Mas há tias e amigos e ex-marido que certamente engrossariam o coro deste meu discurso.
É minha avó... já são três anos que a senhora se foi. Se foi para um dia nos encontrarmos. Essa é a minha fé e a razão de meu equilíbrio.
Eu precisava escrever-lhe. Ainda que psicólogos e psiquiatras criem as teorias e explicações, o que tenho mesmo é saudade imensa e o desejo de voltar à infância e responder seu chamado gritando meu nome para que eu fosse almoçar...
Te amo, vovó. E até veria a novela das oito (ou nove) só para lhe contar o que acontece com a atriz tal ou o ator galã.
A gente se vê e se abraça por aí. Porque aí é bem melhor do que aqui. Disso não tenho dúvida.
Beijos de seu filho-neto,
Márcio
Comentários