Haitianos no Brasil: “e quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Quando fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste” (Mat.25:38a,40b)
Deus, o Pai, o Aba, o Criador, sempre, em toda a história da
humanidade narrada pelo texto bíblico, teve preocupação com o estrangeiro. O
termo “porque fostes peregrinos em terra estranha” aparece um sem número de
vezes. E o veremos aqui algumas delas.
As condições de um estrangeiro em qualquer terra são, normalmente,
muito difíceis. A língua, a fisionomia, a cor de pele, a cultura, o cheiro, as
vestes, a religião. Tudo ou quase tudo é diferente. E isso, em um mundo
competitivo como o nosso é fator limitante ao extremo para que o estrangeiro
consiga o êxito, muitas vezes, da subsistência. Tão somente subsistir.
E é por conta dessa dificuldade que Deus sempre se preocupou
em ensinar o povo a não violentar o estrangeiro – aproveitando-se das
limitações já citadas para o explorar, para o maltratar, para o maldizer. Se
formos citar todos os textos bíblicos, iremos ocupar muito espaço nesta
reflexão. Mas em tempos de grandes mudanças no cenário político e
macroeconômico, onde novas forças aparecem no contexto mundial e onde, para a
boa surpresa nossa, aparece a “pátria amada, idolatrada, salve, salve”, as
situações são mudadas e, não poucas vezes, invertidas.
Quem devia ontem, hoje pode emprestar dinheiro. Quem era tido
como subdesenvolvido, hoje alterou esses termos bobos, como o era o de economia
planificada, etc. E, só para não nos alongarmos mais, o que enviava homens e
mulheres para tentar melhores condições de vida no estrangeiro, agora se torna
alvo dos estrangeiros que vem tentar a sorte por nossa terra brazilis. E o Brasil sempre foi generoso. Basta ver a enorme
colônia japonesa, coreana, alemã, polonesa, pelos estados do Sul e Sudeste, em
especial São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. E o que dizer dos portugueses
em tantas padarias e botecos. E chineses nas intermináveis pastelarias.
Mas há uma mágoa pelo que já sofremos em terra estrangeira. O
que os brasileiros passaram e ainda passam nos Estados Unidos da América, na
Europa – incluindo Portugal e Espanha, por exemplo, não é brincadeira. E aqui
ressoa uma voz que apóia a lei da reciprocidade. Algo como pedir visto de
entrada onde se pede visto entre outras medidas já adotadas.
Mas há algo de terrível acontecendo nos dias de hoje com a
tentativa de entrada de irmãos haitianos no Brasil. Chamo de irmãos porque
somos TODOS peregrinos nesta terra. E se há algo de querer fazer com eles o que
fizeram conosco em outros carnavais e em outros países é vingança barata, é
idiotice e é pecado. E é aqui que eu quero escrever por absoluto incômodo em
meu coração, ao ouvir a tal opinião pública (algumas vezes entre cristãos) criticando a permissividade do governo brasileiro com relação à entrada dos haitianos em nosso país. Isso causando estranheza em mim, talvez pelo desconhecimento de quem o faz.
Se por acaso há uma sensação de que são negros, pessoas
diferentes, perceptíveis aos olhos, vale lembrar, ao menos aos que são
sensíveis à voz do Eterno e leem este texto, de que os haitianos são amados por Ele, são humildes e estão
desesperados. Então não é vingança barata e sim preconceito. Eles perderam tudo
ou quase tudo numa das maiores tragédias da história da humanidade que foram os
terremotos ocorridos em sua pátria. Já eram pobres e hoje estão em situação ainda pior, em muitos casos, absolutamente miseráveis.
O Brasil é grande e o povo que aqui habita é hospitaleiro e
amoroso. E aos que crêem e temem a Deus, precisamos abrir portas, criar
mecanismos para que recebamos muitos que de lá vierem e fazê-los ingressar em
nossa sociedade com as leis que seguimos, para que o pau que valha para
Francisco, também o valha para Chico (Ex.12:49 – “uma mesma lei haja para o
natural e para o estrangeiro”).
Deus afirma em Êxodo 23:9 que o povo conhecia o coração dos
estrangeiros porque foram estrangeiros em terra estranha. Os brasileiros sabem
das agruras de ser estrangeiros e não terem direito algum, serem desprezados,
trabalharem nos trabalhos mais difíceis, etc. Não podemos fazer o mesmo, mas
amá-los (“ama-lo-ás como a ti mesmo, pois estrangeiros fostes na terra do Egito:
Eu sou o Senhor, vosso Deus” – Lev. 34 e Deut. 10:19).
A terra, Deus afirma que é dEle e por isso somos (incluindo
os brasileiros) estrangeiros e peregrinos nela (Lev.25:23). E quando fala do
sustento dos mais pobres no meio do povo, compara aos estrangeiros e
peregrinos. Veja que lindo texto em Levíticos 25:35:
“e quando o teu irmão empobrecer, e as suas forças
decaírem, então sustenta-lo-ás, como estrangeiro e peregrino, para que viva
contigo”
Deus chega a dizer que é maldito aquele que perverter o
direito do estrangeiro, do pobre e da viúva (Deut.27:19). Nas festas se
alegrarão com os naturais (Deut. 16:14). E isso para que todos possam temê-Lo e
engrandecê-Lo (II Cr.6:33). E ainda muitas outras passagens não citadas aqui,
mas que perpassam todo o Antigo Testamento como o Novo. Daí Jó 31:32; Salmo
94:6; Salmo 146:9; Jer. 7:6; 22:3; Ez. 47:22,23; Mal. 3:5; Ef.2:19. Para os que crêem, já é suficiente?
Amemos pois a todos, sem distinção, e Ele, Rei
de toda a terra, nos abençoará ainda mais. Sejamos obedientes às coisas
realmente importantes e verdadeiras
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