Pausa para uma conversa com o Beija Flor

Já fiz um filho, escrevi um livro e plantei uma árvore.
Já posso morrer. Mas quero muito viver.
Venho de uma família, por parte de minha mãe, que viveu pouco. Muitas perdas.
Perdas são dolorosas demais.

Com o passar dos anos, a sensibilidade pelas pequenas coisas aumenta de maneira exponencial. Hoje em dia paro para ver o voo dos passarinhos, ouvir o som estridente de uma ou várias maritacas.

Antes não tinha tempo para nada. E o antes não é tão distante assim.
Entrei em 2014 com uma liberdade diferente de tantos outros anos. E me redescobri menino.
Um menino grandão, meio grisalho. Um menino que não quer crescer, mas não digo como alguns adultos de hoje em dia que são ótimos vivendo na casa dos pais. Apenas me quero menino.

Sonhos e ambições de menino invadem meu coração e mente. E quais são, meu bom Deus, as ambições de um menino?!
Poucas. Pois é, me descobri com poucas ambições, mas nem por isso com sonhos diminutos.

E me deparei com essa pintura na parede do SESC em Sampa. O título afirmando "Pausa para uma conversa com o Beija Flor". Resolvi parar.
Por que parar se faz necessário em tempos de tanta correria. Correndo atrás do vento diria o sábio em Eclesiastes. Sintoma de vaidade.

Parar já não é fácil. Mais difícil será conversar com o Beija Flor. "Dê onde vens, lindo Beija Flor?!", talvez eu iniciasse a conversa. Sou bom em iniciar conversas. Coisa de Carioca. "Por quais voos tens passado?! Em que lugares lindos tens bebido tua água?!".
E numa brincadeira com meu mais novo amigo talvez eu perguntasse se ele sabia que além dele e do helicóptero, também o Michael Jordan e o incrível Dadá Maravilha também param (paravam) no ar... Hahahaha... meninos adoram gargalhadas ao vento!

Mas a foto do artista, a quem cumprimentei pessoalmente (não sei se o autor da obra, mas quem a pintou na parede, grande, com ajuda de andaimes...), diz mais. E me vi fazendo reflexão como fiz ao ler "A volta do Filho Pródigo", com a foto de Rembrandt.

Um menino. Cabeça de girassol, numa magrela (bicicleta). Pescoço de caule, com uma folha linda. Folha como um adorno, um acessório de moda a enfeitar o menino.
Indo cumprir seus sonhos. Sonhos simples, inspirando pessoas. Animando desanimados... comecei a viajar. E aqui não revelarei tudo o que pensei. Tão pouco o que ainda pensarei.

Mas o menino vai plantar uma árvore. Uau! Alimentar a vida. Perpetuar a espécie (e que nunca perpetuemos o continuísmo, muito menos no poder). Trazer frescor às cidades urbanas e poluídas. Árvore que dará aquela sombra renovadora. A mesma que renovou o profeta Jonas, em suas lutas com o Criador. E percebi que eu mesmo tenho as minhas lutas, e minhas questões com Ele. Mas isso seria uma outra história...

Menino, Beija Flor, cabeça de Girassol, indo plantar uma árvore... mas o Beija Flor gosta de Girassol. E muito. Então temos um encontro maravilhoso.
E talvez o Beija Flor dissesse ao menino, muitas coisas. E aqui me pus a ouvir a voz do Beija Flor...

"Vai menino, cabelos ao vento, ideias renovadas, fé em ebulição, amor transbordante, tolerância crescente, relevando o que antes eram dogmas sem sentido, perdoando sem limites... sem reserva."

"Vai menino, deixando a tendência de a todos agradar, de falar o que todo mundo acredita, dando em sua vida a contribuição para que outros tenham vida também. Se deixando julgar e perdoando pelos veredictos. Amigos passados se vão. Os ame ainda mais. Amigos chegam... desfrute desses amigos, pois manterão o Girassol lindo".

"Vai menino... na verdade, vamos, pois estou junto de ti, como o Espírito junto de seu interior de menino. Lembrando-se de que sozinho você não teria fôlego suficiente."

"Vai menino..."

O menino sou eu mesmo, agora tenho certeza.

O menino é também você que lê e se emociona...

Márcio Menino Beija Flor Girassol Duran