Ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2015 quer fazer do mundo um lugar melhor

Professor Angus Deaton quer usar a Economia para ajudar pessoas,
mas não com distribuição de ajuda externa

 

"Você sabia", disse o professor Angus Deaton, o mais novo agraciado com o Prêmio Nobel de Economia, "que levará 200 anos para que as mulheres da Índia cresçam e atinjam a média da altura das mulheres Britânicas? Eu não estou interessado na altura de indivíduos – isso não nos diz muito. Mas a média das alturas nos diz muito; isso tem a ver com má nutrição e condições de saneamento básico pobre. Isso é um bom indicador para comparações de standards de saúde pública".
Desapaixonado, persistente e metódico, isso tudo somado ao tipo de micro pesquisa que procura apresentar o sentido de como as pessoas vivem e o que dá a elas uma qualidade de vida boa – que o Anglo-Americano de 69 anos ganhou a grande honra no campo das Ciências Econômicas. Prêmio Nobel em Ciências Econômicas lhe foi concedido por sua análise sobre o consumo, pobreza e bem-estar.
Professor Deaton não vive na Escócia desde os anos de 1980. Como muitos dos top acadêmicos da Grã Bretanha ele escolheu trabalhar nos Estados Unidos onde é professor de Economia e Relações Internacionais na Universidade Princeton. Todo traço de seu sotaque escocês se foi e embora ele ainda mantenha seu passaporte Britânico, atualmente fala no estilo clássico da Costa Leste Americana e se considera mais Norte-Americano que Escocês e Britânico.
Ao contrário de muitos economistas, e como convém a um verdadeiro estudioso, ele é politicamente impossível de se rotular. Algumas de suas visões na questão da desigualdade – que pode ser melhor compreendida em seu livro The Great Escape: Health, Wealth, and the Origins of Inequality – parece ser de esquerda, mas ele é também alguém que crê no poder da desigualdade para  conduzir o progresso humano e incentivar o sucesso. “Muitas ajudas que vêm de outros países, em diferentes continents”, ele argumenta, “são um desperdício e até mesmo uso destrutivo do dinheiro”, e ainda, que essa ajuda causa mais mal do que bem. Sua insistência sobre a ajuda é a de que isso diz "muito sobre nós mesmos, a demonstrar nossas credenciais humantárias para os outros”. Dessa forma, poderíamos caracterizá-lo muito mais à direita que à esquerda. A bem da verdade, nenhum rótulo é confortável para caracterizá-lo.
A carreira do professor Deaton tem sido focada no entendimento de como as pessoas consomem bens e serviços – um passo crucial para alcance de objetivos sociais como desenvolvedor de saúde e bem estar, assim como a redução da pobreza e da desigualdade social. Apesar de muitos economistas se basearem nos indicadores em larga escala, ele procura entender o por quê de cada pessoa fazer as escolhas que fazem. Em outras palavras, ele entende que as decisões pessoais interessam. “Ao final, isso tudo é sobre pessoas!”, arremata.
"Um dos temas do meu livro," disse ele pouco depois de receber o grande prêmio, "é que há várias coisas que fazem do Mundo um lugar melhor – o que eu chamo de escape – e com a desigualdade, algumas pessoas tem esses escapes muito mais do que outros. Um gráfico favorito que tenho é sobre mortalidade na Grã Bretanha. Época em que a aristocracia tinha exatamente a mesma expectativa de vida que pessoas comuns, mas que, em algum momento, lá por meados de 1800 houve um distanciamento desse quadro por conta de novas drogas e novos caminhos que permitiram coisas que eram inicialmente muito caras. Somente pessoas ricas passaram a ter acesso a elas. Isso não foi uma coisa tão ruim porque alguém sempre tem que chegar lá primeiro, e o que tende a acontecer é que com o tempo elas puxam para cima as outras pessoas que ficaram para trás nesses benefícios. Sendo assim, a desigualdade é um mecanismo que, eventualmente, permite que as pessoas mais pobres consigam fazer o seu escape também. A desigualdade é uma medida de sucesso e nós não queremos sufocar esses incentivos."
E o que ele pensa de Thomas Piketty, o economista francês que escreveu o pesado tomo, pós Marx, Capital no Século Vinte e Um, com as iniquidades da desigualdade de riqueza? "Piketty pensa que é realmente horrível por si só se ter grandes lacunas de renda e riqueza. Eu não estou tão certo de que acredito nisso. O que eu me preocupo é com um pequeno número de pessoas que têm influência sobre o caminho por onde a Economia está indo. Isso mina a democracia para o restante de nós e mina a provisão de bens públicos como saúde, educação na qual muitos de nós dependem e nos ajuda a compreender onde nós estamos no mundo. Agora, se o rico não quer pagar impostos para custear essas coisas, então nós temos um problema real."
“Mas o rico tem um incentivo para custear essas coisas”, ele pondera. “Isso é como o Capitalismo, a forma extremamente adaptável de organização econômica faz para sobreviver. Então nós temos nossas redes de segurança social, nossos esquemas de depósito de seguro, nossos sistemas universais de saúde e por aí vai. Caso contrário, teria naufragado há muito tempo sobre as rochas da insurreição. Você está falando sobre o que os romanos chamavam de pão e circo," replica o professor Deaton. "Isso é como um mundo escravo, dando sua subsistência subjetiva, mas sem caminho para melhorar a si mesmo”. Isso nos traz ordenadamente para as ajudas externas, as quais ele pensa um pouco mais como uma forma de indulgência do Ocidente.

Algumas dos piores casos de catástrofe por ajuda externa tem sido a ajuda humanitária que ocorreu no Haiti depois do terremoto, quando as Nações Unidas trouxeram a epidemia de cólera
"Eu não estou dizendo que toda ajuda é má. Algumas formas de ajuda humanitária, como as terapias anti-virais para pessoas que morreriam são obviamente uma coisa muito positiva. Mas alguns dos piores casos de catástrofe por ajuda humanitária têm sido a ajuda humanitária que ocorreu no Haiti depois do terremoto, quando as Nações Unidas trouxeram a epidemia de cólera. Muitas vezes, há consequências não intencionais, quando os bandidos precisam ser pagos para que você ajude as pessoas que estão em necessidade desesperada. Isto pode apenas perpetuar o assassinato e a carnificina."
 Professor Deaton reserva a sua grande restrição com o desenvolvimento de ajuda externa, com o que ele vê como uma contradição. Segundo ele, “o problema com ajudas externas é se é realmente possível desenvolver alguém de fora do país. Esse não foi o caminho que a Grã Bretanha e os Estados Unidos se tornaram ricos. Eles fizeram isso por eles mesmos”. O apoio de celebridades não chateiam o professor Deaton. As ações de Bono e Angelina Jolie não o perturbam. Mas o envolvimento político o faz ficar indignado. Segundo ele, “quando Tony Blair era primeiro ministro inglês, ele fez muito em ajuda humanitária por causa da guerra no Iraque, permitindo a ele proclamar isso como uma missão moral quando, na verdade, havia sérias dúvidas sobre o quê ele estava fazendo”.

E como o professor Deaton vê a Economia mundial hoje? Há razão para se ter esperança?
“Desenvolvimento não é nem um problema financeiro, nem técnico, mas um problema politico e a indústria da ajuda muitas vezes faz a pior política”. Então quais seriam as soluções na opinião dele? “Reduzir esse tipo de ajuda é uma solução. Mas também limitar o comércio de armas, melhorar as políticas comerciais dos países ricos e de seus subsídios, fornecendo assessoria técnica que não está vinculado à ajuda, e desenvolvimento de melhores medicamentos para doenças que não afetam as pessoas ricas. E ainda a diminuição das barreiras nos comércios, a liberação das políticas de imigração, além de facilitar para os países pobres dividir as invenções e técnicas de gerenciamento para seus próprios desenvolvimentos”.
O prêmio recebido por Deaton é também um chamado aos economistas para que foquem no pobre em geral. Ele finaliza: “Há 700 milhões de pessoas que são pobres e eles são uma constante vergonha para todos nós. Aqueles de nós que tivemos a sorte de nascer em países ricos temos a obrigação moral de reduzir a pobreza e as doenças no mundo. Mas, na verdade, eu penso que o estado de torpor que é experimentado em todo o mundo rico é uma coisa inacreditavelmente assustadora. Toda essas questões de desigualdade se tornam muito mais severas quando as Economias não estão crescendo. Há muitas teorias diferentes sobre o que está causando isso, mas ninguém realmente entende”. E isso realmente resume a abordagem do professor de Economia - uma busca incansável pela afirmação baseada em evidências, e não apenas para o bem dela, mas na esperança de que ele possa informar a política, influenciar o debate público, e com o tempo tornar o mundo um melhor lugar. 

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