HOMENAGEM AO HOMEM SIMPLES

No mês de Julho, na verdade, já em Junho de cada ano, temos uma das mais tradicionais festas de nosso país. São as festas juninas, julinas, caipiras, da roça, ou, seja lá que nome venha a ter.

Não faz muitos anos que caminho no cristianismo como uma prática de fé, de posicionamento. Para ser mais preciso, desde 1989. Minha fé era mais pura, meus sonhos eram os dEle, sempre, e abracei o que chamamos de fé evangélica com muita rapidez e com muita intensidade. Aliás, intensidade sempre envolveu minha vida. Apesar de durabilidade já não me seguir da mesma maneira (acho que até hoje). Mas me tornei crente, crentão mesmo.

E crente, naquele tempo, não participava mais de festas juninas... E isso para mim era difícil, pois adorava as festas na Rua Almirante Baltazar em São Cristóvão, Rio de Janeiro ou no morro de São Roque, também em São Cristóvão. Gostava das paqueras, das comidas, de uma espécie de leilão beneficente, em que se podia arrematar até uma caixa de bombons Garoto por um preço nada interessante, mas de maneira emocionante.

Aprendi que não poderia uma série de coisas. Nada de transar, até o casamento. Nada de Festa Junina. Carnaval, nem pensar. Jogar sinuca era coisa de beberrão... Futebol, bom este conselho ajudou-me a mudar de denominação... TV deveria ser limitada ou, se eu fosse forte o suficiente, banida. Mas em Copas do Mundo? E o meu Vascão? Achei que deveria focar mais em não fazer coisas que julgava serem mais sérias. E bani a Festa Junina. O Bloco das Piranhas já havia deixado para trás mesmo...

Mas a realidade das proibições foi ficando para trás, a contextualização da Igreja foi aceitando até mesmo o Rock dentro do culto. E hoje temos uma Igreja onde os saudosistas começam a desejar algumas proibições básicas. Mas a Festa Junina passou a ocupar o calendário das denominações menos imaginadas há dez, quinze anos anos atrás. Para minha alegria, e não só por causa da festa em si. Hoje, alegro-me com a festa por conta da homenagem (ainda que muitos considerem um deboche desagradável, simplesmente o fato de dentes pintados de preto, palavras ditas de maneira errada, sotaque e outras coisas) aos caipiras, aos homens e mulheres do campo.

Em uma sociedade tão e cada vez mais urbanizada, falar da vida no campo remete-nos até os dias do Mestre, onde parábolas sobre sementes, campos, seara, árvores, eram tão comuns. Falar da vida onde se trabalha muito. Provavelmente mais do que nas chamadas cidades, mas onde se encontra tempo para um dedo de prosa, onde os telefones celulares ainda são poucos, onde se senta sobre as próprias pernas e fala-se das coisas mais simples, e nem por isso menos engraçadas. Povo que sonha com um tempo bom para que a colheita seja farta, onde os filhos ainda são criados sob disciplina, honestidade e amor. Onde o casamento ainda é um alvo importante e o dia de estar na igreja é considerado dia de roupa nova ou ainda como roupa de missa (talvez o texto tenha mais críticos por conta deste comentário do que pelo Bloco...).

Esta reflexão não pretende (se é que pode pretender alguma coisa) mais do que homenagear o homem mais simples, o homem do campo. O homem que precisa da luz do Salvador tanto quanto qualquer outro, mas que já O percebe nas pequenas coisas de seu dia-a-dia, que respeita a natureza por conta de seu sustento, da herança de seus filhos. Que se assusta com a mudança na vida familiar, com a banalização do matrimônio, da rebeldia dos filhos e que não entende como amigos não se encontram na vida urbana mesmo se chamando de amigos. Homens matutos, de pouco estudo, e que ficam perplexos com tantas mudanças, assim como eu ficava com a notícia de que as Festas Juninas deveriam ser abandonadas. Não mais, graças a Deus. Então, anarriê!

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