O que vi da vida anteontem...

 
Vi um homem. Amputado, jogado ao chão. No meio da Praça Saens Pena, Rio de Janeiro. Bem, não era bem um homem. Ele era incompleto, abobado, invisível, drogado(?!), talvez fosse.
Um triste espetáculo para alguém cujo novo ano de 2013 não deve ter a menor importância. Rastejava e se esforçava para puxar a bermudinha encardida para apresentar o cotoco da perna. Perna direita de alguém que me parecia destro.
E o cotoco, membro quase fálico, era mexido todo o tempo. Possuía um buraco no meio. E as pessoas passavam. A maioria fingia não ver. Outras davam a entender que não o viam mesmo, como um casal de namorados, entretidos no amor um do outro. Alguns doavam moedas, outros alguma nota de baixo valor. Esmolavam.
O que fazer com aquela imagem, pensei?! Eu que muitas vezes finjo não ver, por que me incomoda profundamente. O que foi que eu não fiz, meu Deus! Como posso agir para minorar a miséria de seres humanos como este homem? E o que fazer com aquele olhar? Falso ou não, traz em si muita dor e sofrimento verdadeiros... história de vida terrível.
Rubem Alves disse, e eu mesmo o ouvi, afirmando saber que não se deve dar dinheiro para meninos de rua e/ou homens como este... mas ele finaliza: "mas o que fazer com aquele olhar?"
Impotente me senti. Egoísta me senti. E a vida perde muito de seu valor se as benesses forem somente para mim e para os meus. Se somente meus amigos e amigas avançarem em suas vidas. O que fazer com aquele homem? O que fazer comigo que nada fiz e que pouco, muito pouco faço?
Ele recebeu de uma senhora, vestida para ir à praia, uma nota de dez reais e sorriu. Eu o vi sorrir com aquele ato mais generoso de uma senhora que não parecia rica. Pelo contrário. Sem novidade saber disso.
Ouvi e aprendi com o amigo Eduardo Nunes da Visão Mundial que dentre os mais pobres, se dividirmos estes em 10 decis mais pobres, os dois decis dentre os mais pobres não são alcançados nem mesmo pelos projetos sociais mais básicos, sejam governamentais, sejam não governamentais. São os invisíveis, os intocáveis, os dálits de nossa geração.
Ouvi e aprendi com o Milani, um dos heróis no Projeto Cena, na cracolândia de São Paulo. que entre aqueles homens e mulheres, verdadeiros trapos humanos, assim como aprendi e li com Jorge Amado e seus Capitães de Areia, há gente com caráter melhor que o meu. Gente de princípios e valores. Apenas estão escravizados pelo crack.
Ouvi, li, mas, a bem da verdade, ainda não aprendi que preciso fazer mais. E eu não fiz. Preciso abraçar mais e chorar com essa gente. Com esses filhos de Deus.
Mesmo assim peço um ano abençoado ao Pai. Pai em quem creio convictamente. E peço perdão sincero por mim. E pela fé consigo sentir o perdão, e quase consigo ouvir as palavras de maneira audível e muito clara...
"meu filho, vá e não faça de novo... abrace e ame seus irmãos... todos eles... os abraçando, você Me abraça..."

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